Os primeiros 100 dias da segunda administração de Donald Trump, completados hoje, marcam um período de transformação abrupta e polarização, com impactos profundos a nível interno e internacional. Oferecemos aqui uma análise clara e abrangente dos principais desenvolvimentos, apoiada em dados, examinando a política doméstica, económica, social e de segurança, bem como as implicações na ordem global, sem descurar nenhum aspecto relevante.
Políticas Domésticas: Autoritarismo e Reestruturação Governamental
Internamente, Trump implementou uma agenda agressiva, centrada na consolidação do poder executivo e no desmantelamento de estruturas federais, alinhada com o blueprint do Project 2025 da Heritage Foundation. Através de mais de 200 ordens executivas, um número sem precedentes, reverteu políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), eliminou protecções para cuidados de saúde transgénero e cortou financiamento a escolas consideradas “woke”. A ordem executiva de 20 de Março de 2025, que iniciou a eliminação do Departamento de Educação, justificada por Trump com base em orçamentos inflacionados sem melhorias nos resultados escolares, reflecte a sua visão de reduzir o aparelho estatal, embora 90% do financiamento educativo provenha de estados e municípios.
A reestruturação do Departamento de Justiça (DOJ) e do FBI, sob a liderança de Kash Patel, descentralizou o comando do FBI e dissolveu unidades de combate à interferência eleitoral estrangeira, levantando preocupações sobre a politização da justiça. A destituição de 25.000 funcionários federais recém-contratados e a redução de organismos de supervisão ética criaram um ambiente propício a conflitos de interesses, com membros do Gabinete, como o Secretário da Energia Chris Wright, a beneficiarem directamente de políticas favoráveis às suas antigas empresas. Estas acções, combinadas com indultos a condenados pelo ataque ao Capitólio de 6 de Janeiro de 2021, sinalizam uma erosão das normas democráticas, aproximando os EUA de um presidencialismo imperial.
Economia: Tarifas, Inflação e Instabilidade
Economicamente, a administração Trump herdou uma economia resiliente, com inflação entre 2,2% e 2,4%, desemprego a 4,4% e uma dívida nacional de 36,2 biliões de dólares. Contudo, a imposição de tarifas globais, inicialmente fixadas em 25% e posteriormente reduzidas para 10% (excepto contra a China), abalou os mercados, com o S&P 500 a registar o pior início de mandato em décadas. A Reserva Federal reviu as previsões de crescimento de 2,1% para 1,7% e elevou a projeção de inflação para 2,7%, alertando que as tarifas aumentarão preços e desacelerarão o crescimento. Um inquérito da CNN (17-24 de Abril de 2025) revelou que 59% dos americanos consideram que as políticas de Trump pioraram as condições económicas, um aumento face aos 51% em Março.
Apesar de promessas de prosperidade, a desregulação energética e cortes fiscais beneficiaram sobretudo elites económicas, como evidenciado pela aprovação de políticas que favorecem empresas de fracking ligadas a Wright. A suspensão de incentivos para veículos eléctricos e subsídios climáticos agravou tensões com sectores tecnológicos e ambientais, enquanto a paralisação de projectos de banda larga em estados como Virgínia Ocidental, em favor de soluções via satélite promovidas por aliados como Howard Lutnick, atrasou o acesso a infraestruturas críticas. Estes desenvolvimentos, aliados à ameaça de recessão (risco estimado em 55%), sugerem uma gestão económica caótica, com impactos desiguais.
Imigração e Segurança Interna: Políticas Controvertidas
A imigração foi um pilar central da agenda de Trump, com a assinatura da Laken Riley Act em 29 de Janeiro de 2025, que obriga a detenção de migrantes ilegais acusados de crimes como roubo, e a invocação do Alien Enemies Act de 1798 para deportar 238 alegados membros da gangue venezuelana Tren de Aragua. Apesar de uma ordem judicial ter bloqueado estas deportações por violarem o devido processo, a administração prosseguiu, deportando inclusive um cidadão americano por erro, o que gerou críticas de juízes federais. A expansão do centro de detenção em Guantanamo para 30.000 migrantes enfrentou obstáculos logísticos, com apenas 20 detidos a 6 de março de 2025, levando à reconsideração do projeto.
A ordem executiva de 28 de Abril de 2025, que ameaça sancionar “cidades santuário” e reforçar a actuação policial, ecoa a retórica de Trump de “um dia realmente violento” para combater o crime, mas tem sido criticada por fomentar divisões comunitárias. A detenção de 538 migrantes ilegais em operações como a Operation Rough Rider, que custou mais de mil milhões de dólares, reflete a priorização da segurança interna, mas também expõe tensões com aliados devido à detenção de militares americanos ativos.
Política Externa: Isolacionismo e Ruptura com Aliados
No plano internacional, a administração Trump adoptou uma abordagem isolacionista, desmantelando o papel dos EUA como garante da ordem liberal pós-Segunda Guerra Mundial. A suspensão de ajuda militar à Ucrânia, pressionando Kiev para aceitar um acordo com o Kremlin, fracturou a confiança transatlântica, com Trump a alternar entre críticas a Zelensky e Putin. A ameaça de abandonar a NATO, reiterada em Março de 2025, caso os aliados não aumentem contribuições, alienou parceiros europeus, enquanto a redução de programas de cibersegurança e contra desinformação enfraqueceu a resiliência contra ameaças híbridas.
No Médio Oriente, Trump obteve um cessar-fogo inicial em Gaza, mas a sua posterior ruptura, com Israel a bloquear ajuda humanitária, revelou inconsistências na política externa. Declarações provocatórias, como a sugestão de transformar Gaza em “condomínios à beira-mar”, minaram a credibilidade dos EUA como mediador. A imposição de tarifas globais, embora temporariamente suspensas por 90 dias a 10 de Abril de 2025, desencadeou turbulência económica, com aliados como o Japão e a UE a considerarem aproximações à China. A recusa em acolher refugiados afegãos que apoiaram tropas americanas, contrastando com promessas de administrações anteriores, reforçou a perceção de abandono.
Implicações Sociais e Aprovação Pública
Socialmente, as políticas de Trump aprofundaram divisões. A ordem executiva que define apenas dois géneros e proíbe a “ideologia de género” gerou protestos de comunidades LGBTQ+, enquanto a destituição de programas de saúde global, como os da USAID, comprometeu esforços contra pandemias. A aprovação de Trump caiu para 40%, com 84% de apoio entre republicanos, mas uma rejeição crescente entre independentes, refletindo descontentamento com tarifas e cortes governamentais.
Conclusão: Um Legado de Caos e Polarização
Os primeiros 100 dias de Trump em 2025 consolidaram um presidencialismo autoritário, com políticas internas que favorecem elites e desmantelam normas democráticas, e uma política externa que isola os EUA e destabiliza a ordem global. A nível interno, a economia enfrenta riscos de recessão, enquanto a imigração e a segurança polarizam a sociedade. Internacionalmente, a ruptura com aliados e a abordagem errática a conflitos como os da Ucrânia e Gaza fragilizam a liderança americana. Este período, descrito como uma “revolução conservadora” por apoiantes e uma “crise constitucional” por críticos, marca um ponto de inflexão, cujas consequências dependerão da capacidade de Trump de superar desafios legais e da resposta de instituições democráticas. A UE e outros aliados devem preparar-se para um mundo menos previsível, enquanto os cidadãos americanos enfrentam um futuro de incerteza económica e social.
O conteúdo Os primeiros 100 dias da administração Trump em 2025: balanço político e geoestratégico aparece primeiro em Correio da Kianda – Notícias de Angola.
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