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O turismo como prioridade económica: para lá dos discursos

Fala-se muito do turismo em Angola. Diz-se que é uma prioridade, que pode diversificar a economia, criar empregos e trazer investimento. Mas quando olhamos para o que acontece na prática, a realidade é diferente. O turismo ainda não é tratado com a seriedade e o compromisso que merece. E isso precisa de mudar.

Temos um país com paisagens que tiram o fôlego, com uma cultura rica, um povo acolhedor, uma gastronomia autêntica e uma posição geográfica que pode atrair visitantes de todo o mundo. Mas também temos estradas em mau estado, falta de formação para quem trabalha no sector, preços altos e processos burocráticos que dificultam o turismo em vez de o facilitar.

Historicamente, o turismo em Angola tem sido maioritariamente de negócios. Mas nos últimos anos começamos a assistir a uma transição para o turismo de lazer. Destinos como o Mussulo, Cabo Ledo, as Quedas de Calandula e outras zonas costeiras têm vindo a ganhar protagonismo, especialmente entre turistas nacionais. O segmento da Kizomba, por exemplo, está a crescer e tem trazido turistas que vêm a Angola para festivais e actividades culturais. Estes turistas têm um perfil diferente: acordam tarde, consomem mais fora do horário tradicional corporativo, e procuram experiências autênticas. É um bom desafio para os hoteleiros, que começam a adaptar os seus serviços a estas novas exigências.

Ao mesmo tempo, temos muitos hotéis encerrados que precisam de ser reabilitados e reabertos. Cada unidade que volta a funcionar representa novos empregos, mais oportunidades para cadeias nacionais e uma porta de entrada para marcas internacionais que queiram expandir para o nosso mercado. A entrada de cadeias hoteleiras internacionais é estratégica: alavanca a formação da mão-de-obra, impõe padrões de serviço, introduz tecnologia e melhora as condições salariais no sector. Tudo isso impacta positivamente na experiência do cliente e na reputação do destino.

Mais do que isso, o foco no desenvolvimento de unidades hoteleiras de até 3 estrelas deve ser uma prioridade. São estas unidades que podem, de forma realista, servir o mercado interno, permitindo que o cidadão angolano tenha acesso a um alojamento digno, a preço acessível, e consiga participar activamente na economia do lazer: pagando uma noite de hotel, jantando num restaurante, fazendo passeios turísticos. Esta é a verdadeira economia circular no turismo.

Não basta dizer que o turismo é importante. É preciso agir com estratégia. É preciso investir com foco e coragem política. Angola deve definir com clareza uma carteira de destinos prioritários com base em critérios de acessibilidade, atractividade, segurança e potencial económico imediato. Esses destinos devem contar com investimentos públicos e privados coordenados, desde estradas e energia até comunicações e sinalética turística, para se tornarem verdadeiros motores de atracção. Para que esses destinos cresçam de forma organizada, é essencial garantir que cada investimento seja acompanhado, monitorado e avaliado com responsabilidade, clareza e foco nos resultados.

Além disso, é fundamental estabelecer incentivos para operadores turísticos, pequenos empresários e investidores locais participarem activamente nesse processo. Sem esquecer que as comunidades residentes nesses destinos devem ser envolvidas desde o início, beneficiando da criação de empregos, formação e oportunidades de negócio.

Formar bem os profissionais, desde recepcionistas até gestores, é outro pilar essencial. Promover Angola de forma consistente com campanhas inteligentes, em canais certos, para mercados que nos interessem deve ser uma missão contínua. Por fim, acompanhar os resultados com transparência e ajustá-los com base em dados reais. É assim que se constrói um sector sólido e respeitado.

Angola pode ser um destino turístico de referência em África. Mas isso só vai acontecer se deixarmos de lado os discursos bonitos e passarmos para a acção concreta. Se tratarmos o turismo como um verdadeiro assunto de Estado, com orçamento, com metas e com seriedade.

Escrevo esta reflexão com espírito construtivo e com a convicção de que o turismo é um bem público e estratégico, cuja valorização exige o contributo contínuo de todos os que acreditam no seu potencial transformador para Angola.

Agora, mais do que nunca, precisamos de agir. O tempo dos discursos já passou. O turismo merece mais. Angola também.

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