O que aconteceu recentemente nos bastidores dos preparativos da peça teatral “Hotel Komarca – Ala Feminina”, produzida pela Bucos Produções é apenas mais uma prova do que há muito tempo denunciamos: o Estado angolano está a matar a criatividade e o espírito empreendedor dos nossos jovens. A burocracia, em vez de apoiar, trava. Em vez de incentivar, sufoca. E o mais grave: tudo isso ocorre com o silêncio das autoridades responsáveis por promover o sector cultural.
Hoje, em Angola, famílias inteiras ficam sem opções de lazer aos fins de semana. O teatro e outras manifestações culturais poderiam/e deveriam preencher esse vazio, oferecendo momentos de lazer de qualidade, educação, reflexão e até união familiar. No entanto, essas iniciativas são “atrapalhadas” pelos Órgãos da Administração Local do Estado, que preferem cobrar taxas abusivas, do que oferecer Apoio logístico e institucional.
A Buco’s Produções denunciou uma prática absurda: produtores culturais estão a ser obrigados a pagar duas vezes pela utilização de uma sala de espetáculo — uma ao dono da sala e outra à administração municipal, que não tem nenhuma ligação com o espaço. Além disso, impõem-se taxas por cadeira e pelo valor de cada ingresso. Trata-se de um verdadeiro abuso de poder que desrespeita a cultura e desencoraja a criação artística.
Como podemos alcançar a prosperidade económica se não educamos os nossos filhos? E como educá-los sem acesso à cultura, que é parte essencial da formação de um cidadão consciente, criativo e crítico?
Em quase todo o mundo, as administrações municipais têm o dever de incentivar a criação artística, justamente porque entendem que uma sociedade que valoriza a arte está a investir no seu próprio futuro. Por que razão em Angola isso deveria ser diferente? Será que os nossos líderes não percebem que um país sem cultura é um país sem alma?
É urgente que o Ministério da Cultura assuma o seu papel. Todos os municípios deveriam, no mínimo, ter uma sala dedicada à criação artística, ao teatro, à música, à dança, ao cinema. Espaços que acolham os talentos locais e deem visibilidade à nossa identidade colectiva.
Vamos continuar a assistir à migração dos nossos jovens por falta de oportunidades e espaços para se expressarem nas suas próprias comunidades? Ou vamos, finalmente, criar as condições para que a criatividade floresça aqui mesmo, onde ela nasce?
Está na hora de mudar, meus senhores. Tal como escreveu Agostinho Neto, “A cultura é a expressão mais elevada da alma de um povo.”
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