Num mundo globalizado e cada vez mais competitivo, a produtividade tornou-se uma chave estratégica para o desenvolvimento económico de qualquer país. Os países desenvolvidos não são apenas aqueles que possuem grandes reservas de recursos naturais ou capital financeiro, mas sim aqueles que sabem transformar esses recursos em valor. Isso é feito por meio de uma gestão eficiente, do aumento contínuo da produtividade nas suas organizações, e do fortalecimento das competências dos seus trabalhadores. Como bem afirmou o economista Paul Krugman (1994): “A produtividade não é tudo, mas, a longo prazo, é quase tudo.”
No contexto angolano, a produtividade das organizações é um tema de extrema relevância e urgência. Angola tem, ao longo dos últimos anos, enfrentado desafios estruturais que limitam o aumento da sua produtividade, tais como a dependência excessiva de recursos naturais (principalmente o petróleo), a baixa diversificação económica e uma infraestrutura insuficiente para suportar a competitividade. A competitividade organizacional e a produtividade estão profundamente interligadas, sendo necessário um esforço consciente para criar uma cultura de produtividade que reverbere em todos os sectores da sociedade angolana.
Este artigo busca explorar as principais questões que afectam a produtividade nas organizações angolanas e sugerir estratégias viáveis para promover uma transformação estrutural que fortaleça a capacidade produtiva do país. Diante de um cenário de desafios, a construção de uma cultura de produtividade é, sem dúvida, um caminho para o desenvolvimento sustentável e para uma economia mais robusta e resiliente.
1. Entender o Conceito de Produtividade
Produtividade, de forma simplificada, pode ser entendida como a relação entre os recursos utilizados (inputs) e os resultados alcançados (outputs). Em termos empresariais, é a capacidade de produzir mais com os mesmos, ou até com menos recursos, aumentando a eficiência e reduzindo o desperdício. Peter Drucker, um dos mais influentes pensadores da administração, afirmou que “a produtividade é o que transforma recursos em valor. Uma empresa não é mais competitiva só porque tem bons produtos ou uma boa infraestrutura; é competitiva porque faz uso inteligente dos seus recursos.”
A produtividade não se limita apenas ao número de horas trabalhadas, mas envolve a qualidade do trabalho, a capacidade de inovação, a organização interna das empresas e o uso de novas tecnologias. A cultura de produtividade, portanto, envolve a adopção de práticas que promovam não só a eficiência, mas também a criatividade, o pensamento estratégico e a valorização do capital humano.
2. O Desafio da Produtividade em Angola
Angola enfrenta desafios estruturais que dificultam o aumento da sua produtividade. Estes desafios incluem uma economia pouco diversificada, com grande dependência do petróleo, instituições públicas ineficientes, burocracia excessiva, informalidade generalizada e um sistema educacional deficitário que não prepara adequadamente a população para as exigências do mercado de trabalho.
De acordo com o Índice de Competitividade Global, publicado pelo Fórum Económico Mundial em 2023, Angola ocupa uma das últimas posições no ranking africano em termos de eficiência laboral, qualificação da mão-de-obra e infraestrutura tecnológica. Além disso, a maior parte da população activa (mais de 70%) ainda trabalha no sector informal, onde a produtividade é geralmente baixa devido à falta de acesso a novas tecnologias, conhecimento e práticas de gestão eficientes.
A escassez de acesso a tecnologias modernas, a falta de recursos humanos capacitados e a lentidão nas reformas institucionais são alguns dos factores que perpetuam um ciclo vicioso de baixa produtividade nas organizações. A maior parte das empresas opera com processos manuais e gestão ultrapassada, o que dificulta a adaptação ao mercado global e às novas exigências do ambiente económico.
3. Como Introduzir a Cultura de Produtividade nas Organizações
a) Formação e Capacitação Contínua
Investir em formação e desenvolvimento contínuo é uma das primeiras acções que as organizações devem tomar para elevar a sua produtividade. Isso implica não apenas formações técnicas, mas também o desenvolvimento de competências emocionais e gerenciais. Empresas e instituições públicas devem apostar em programas de capacitação voltados para a gestão do tempo, planeamento estratégico, liderança, inovação e uso de tecnologias.
Estudos realizados por Lazear (2004) demonstram que empresas com alta produtividade têm um sistema de formação contínua eficiente, que prepara os funcionários para novas exigências e possibilita a adaptação a mudanças rápidas no mercado. O investimento na qualificação do capital humano garante que as organizações possam implementar processos mais eficientes e adaptar-se rapidamente às novas exigências do mercado.
b) Uso Inteligente da Tecnologia
O uso de tecnologia digital e inovação é fundamental para aumentar a produtividade nas organizações. Ferramentas como sistemas de gestão empresarial (ERP), automação de processos e análise de dados são indispensáveis para optimizar operações e reduzir custos. Países como a Coreia do Sul e Singapura demonstraram, na sua ascensão, a importância da adopção de tecnologias de ponta para a digitalização da administração pública, da indústria e dos serviços.
Em Angola, a transformação digital deve ser uma prioridade, tanto para o sector público como para o privado. A introdução de softwares de gestão, plataformas de comércio electrónico, sistemas de contabilidade online e programas de automação industrial podem significar um salto significativo na produtividade organizacional.
c) Cultura de Metas, Resultados e Qualidade
A cultura de produtividade está intimamente ligada a uma mentalidade orientada para resultados e para a busca contínua da qualidade. Organizações que estabelecem metas claras e têm um sistema de avaliação de desempenho tendem a ser mais eficientes. Isso não significa apenas exigir mais horas de trabalho, mas sim promover uma gestão baseada em resultados, qualidade e entrega de valor.
Kaplan e Norton (1996), em seu estudo sobre o Balanced Scorecard, enfatizam que a definição de objectivos claros e a monitorização do desempenho organizacional são cruciais para o sucesso. O estabelecimento de KPIs (Indicadores-chave de Desempenho) deve estar alinhado à estratégia de longo prazo da organização, considerando também padrões de qualidade como parte essencial do processo produtivo.
d) Liderança Transformadora
A liderança desempenha um papel fundamental na implementação de uma cultura de produtividade. Líderes que incentivam a inovação, promovem um ambiente de trabalho colaborativo e servem de modelo de compromisso e ética são essenciais para a mudança de mentalidade dentro das organizações. A liderança deve ser inspiradora, voltada para o empoderamento das equipas, e não apenas para a gestão da autoridade.
James C. Hunter (2004) afirma que “um líder eficaz não impõe soluções, mas inspira a acção e cria as condições para que as pessoas desenvolvam o seu potencial”. Em Angola, os líderes devem ser agentes de mudança que incentivem a adopção de novas formas de trabalho, promovam o desenvolvimento de competências e cultivem uma cultura de qualidade e excelência.
4. O Que Pode Angola Aprender com os Países Mais Produtivos?
Em países com elevado índice de produtividade, como a Suíça, Alemanha e Singapura, a educação de qualidade, a facilidade de fazer negócios e a integração tecnológica são elementos-chave que sustentam o seu desenvolvimento. O relatório Doing Business (Banco Mundial, 2020) indica que estes países estão entre os mais competitivos do mundo, com uma gestão eficiente, poucas barreiras burocráticas e um forte compromisso com inovação e qualidade.
Estes países também promovem uma cultura empresarial que valoriza o investimento nas pessoas, com programas de formação contínua e inclusão de todos os trabalhadores nos processos de tomada de decisão. Angola pode aprender com estas experiências e, a partir delas, desenvolver estratégias adaptadas às suas realidades e potencialidades.
Finalmente, para Angola alcançar um desenvolvimento sustentável e competitivo, é imprescindível que as organizações adoptem uma cultura de produtividade estratégica, que inclua a qualificação dos seus trabalhadores, a melhoria contínua da qualidade dos processos e a implementação de tecnologias inovadoras. A transformação cultural nas organizações não será fácil, mas é essencial para que o país consiga romper as barreiras que ainda limitam o seu crescimento e desenvolvimento. A produtividade é a base da competitividade e, como bem afirmou Michael Porter (1990): “A produtividade de uma nação é o motor da sua competitividade e do seu crescimento económico.”
Angola não pode mais depender exclusivamente dos seus recursos naturais. O futuro está na capacidade do país de maximizar o seu potencial humano e transformar os seus recursos em valor agregado, através de práticas inovadoras, de uma gestão eficiente e de um compromisso firme com a qualidade. O caminho será longo, mas a construção de uma cultura nacional de produtividade e excelência será, sem dúvida, um passo estratégico em direcção a um futuro mais próspero e sustentável.
O conteúdo Produtividade em Angola: o maior obstáculo ao desenvolvimento nacional aparece primeiro em Correio da Kianda – Notícias de Angola.
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