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Empresários em Angola: unidos ou condenados ao fracasso?

1. Introdução: Um Sector Privado Disperso e a Necessidade de Convergência

Num mundo cada vez mais competitivo e interligado, o desenvolvimento económico dos países está intrinsecamente ligado à força e organização do seu sector privado. Em Angola, apesar dos esforços do Executivo em criar um ambiente propício à livre iniciativa, à diversificação económica e ao investimento privado, verifica-se uma fragilidade estrutural no tecido empresarial associativo.

A multiplicação de associações, câmaras de comércio, fóruns empresariais e núcleos sectoriais, embora louvável na sua intenção de representar interesses específicos, tem gerado uma hiperfragmentação institucional, tornando o empresariado angolano incapaz de actuar com força concertada junto dos decisores políticos. Em vez de unidade, reina a dispersão; em vez de estratégia comum, predominam agendas particulares.

Como refere o economista francês Jacques Attali (2005), “os países que mais crescem são aqueles em que os actores económicos falam a uma só voz e partilham uma visão de futuro”. É neste contexto que se propõe a criação da União Nacional das Organizações Empresariais de Angola (UNAEA).

2. O Contexto Actual: Crises, Oportunidades e a Reinvenção do Empresariado

Angola enfrenta o desafio de transitar de uma economia rentista, excessivamente dependente do petróleo, para uma economia produtiva, diversificada, digitalizada e baseada no conhecimento. Os efeitos da pandemia da COVID-19, a crise cambial, a inflação e o elevado índice de desemprego, especialmente entre os jovens, têm acentuado a urgência de fortalecer o sector empresarial como motor da recuperação económica.

Paradoxalmente, é nos momentos de crise que surgem as grandes oportunidades. Como lembra Schumpeter (1942), o desenvolvimento económico é fruto de “destruições criativas”, nas quais velhas estruturas dão lugar a novas formas de organização e inovação.

É tempo, pois, de o empresariado angolano se reinventar institucionalmente, abandonando a lógica da divisão e da competição institucional para abraçar a cooperação estratégica e a governança partilhada.

3. A UNEA: Uma Confederação Nacional de Representatividade Empresarial

A UNEA é proposta como uma plataforma confederativa inclusiva, que congregue todas as organizações empresariais legalmente reconhecidas em Angola, actuando como interlocutora nacional do sector privado junto dos órgãos de soberania, parceiros internacionais, instituições de crédito e organizações da sociedade civil.

Esta estrutura terá por objectivo:

Representar os interesses colectivos do empresariado angolano;

Harmonizar acções, discursos e posicionamentos institucionais;

Facilitar o acesso coordenado a financiamentos, parcerias e mercados;

Criar um ambiente de auto-regulação, ética e responsabilidade empresarial;

Fomentar a formação, digitalização e modernização das PME angolanas.

Trata-se, como bem salienta Manuel Castells (1996), de “criar redes de interdependência e inteligência colectiva”, fundamentais no século XXI.

4. Modelo de Governação: Transparente, Participativo e Territorial

A legitimidade da UNEA deverá assentar num modelo de governação democrática, transparente e descentralizado, com inclusão efectiva de todas as regiões e sectores económicos. Sugere-se a seguinte estrutura:

Assembleia Geral Nacional, como órgão máximo de deliberação;

Conselho de Direcção, com representação paritária das organizações fundadoras;

Conselhos Provinciais, garantindo territorialidade e capilaridade;

Comissões Técnicas Temáticas: Indústria, Comércio, Agricultura, TIC, Logística, Turismo, Jovens e Mulheres Empresárias, etc.;

Secretariado Executivo Nacional, responsável pela operacionalização estratégica.

Este modelo permitirá respeitar a diversidade do tecido empresarial, sem perder a unidade de acção nacional.

5. Benefícios Sistémicos da UNEA: Para o Estado, o Empresariado e a Sociedade

A criação da UNEA trará múltiplos benefícios:

a) Para o Estado:

Canal institucionalizado para auscultação e concertação económica;

Redução da burocracia no diálogo com o sector privado;

Maior previsibilidade e eficácia na formulação de políticas públicas.

b) Para o Empresariado:

Maior força negocial colectiva;

Partilha de recursos, inteligência e boas práticas;

Visibilidade e legitimidade nacional e internacional.

c) Para a Sociedade:

Estímulo ao emprego e ao empreendedorismo;

Valorização do capital humano local;

Promoção da ética e responsabilidade empresarial.

Como defende Amartya Sen (1999), o desenvolvimento deve ser compreendido como a expansão das liberdades e capacidades das pessoas. A UNEA será uma das ferramentas para esta expansão.

6. Desafios e Resistências: O Preço da Unidade

Como todo processo de transformação institucional, a criação da UNEA não estará isenta de desafios. Haverá resistências, por parte de quem vê na actual desorganização uma forma de manter poder ou protagonismo. Será preciso um esforço colectivo de maturidade, humildade e visão de longo prazo.

O académico Boaventura de Sousa Santos sublinha que “a emancipação exige ruptura com o egoísmo institucional e a criação de espaços plurais de articulação de saberes e interesses”. A UNEA poderá representar esse espaço emancipador do empresariado angolano.

7. Chamamento Final: Unidos para Transformar Angola

A hora é agora. O futuro do sector empresarial angolano depende da sua capacidade de se organizar de forma estruturada, estratégica e unida. A UNEA é mais do que uma proposta organizacional; é um projecto de nação, uma ferramenta para catalisar o desenvolvimento inclusivo, sustentável e soberano.

Unir os empresários é unir Angola. Construir a UNEA é edificar um novo tempo, onde o sector privado deixa de ser espectador e passa a ser protagonista do desenvolvimento nacional.

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