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A sangria silenciosa de quadros da UNITA para o Partido Liberal e PRA-JA

Nas últimas semanas, o cenário político angolano tem assistido a uma movimentação inesperada e silenciosa, mas de grande significado estratégico: a transferência de diversos quadros e dirigentes da UNITA para outras forças políticas emergentes, nomeadamente o Partido Liberal (PL) e o PRA-JA Servir Angola. Esta tendência levanta questões sérias sobre a coesão interna, visão estratégica e capacidade de retenção de talentos da segunda maior força política de Angola.

Entre os nomes mais sonantes está Sahana Wandakeya, um quadro formado na JURA, organização juvenil da UNITA, e que, durante anos, foi uma voz activa em defesa do partido do “galo negro” como verdadeiro instrumento de realização dos sonhos dos angolanos. Hoje, Sahana ocupa o cargo de Secretário Nacional para Formação de Quadros do Partido Liberal, num movimento que pode ser interpretado como um gesto de ruptura ideológica ou, talvez, de desilusão institucional.

Também Daniel Pereira, militante da UNITA e assessor parlamentar, foi recentemente eleito vice-presidente do Partido Liberal, um posto de elevada responsabilidade que mostra a confiança que esta nova força deposita nos ex-militantes da UNITA. A trajetória de Sebastião Salakiaku, outro nome conhecido nos meios da oposição, que migrou para o PRA-JA, reforça esta tendência.

Outros nomes como Emília Katombela (ex-dirigente distrital da UNITA no Huambo, agora membro da Comissão Política do PL), Alberto Mulaza (antigo membro do Comité Permanente da UNITA que aderiu ao PRA-JA), e José Sakaita, ex-coordenador da JURA na Lunda-Norte que agora ocupa funções organizacionais no PL, revelam que não se trata de casos isolados, mas de um verdadeiro fenómeno político.

Interpretações possíveis

Há duas leituras possíveis, e talvez complementares, sobre este êxodo silencioso:

  1. Fragilidade Institucional da UNITA:

A saída em massa pode indicar falhas graves na gestão interna da UNITA. Ausência de mecanismos de valorização dos quadros, disputas internas, centralização de decisões, ou falta de perspectivas reais de ascensão dentro da estrutura partidária podem estar a afastar jovens e veteranos. O discurso da renovação não tem sido suficiente para segurar os seus melhores quadros.

  1. Ascensão das novas forças políticas:

O Partido Liberal e o PRA-JA parecem estar a construir-se com uma visão mais inclusiva, pragmática e menos ideologicamente engessada. Aproveitam o descontentamento para captar talentos já formados, dando-lhes visibilidade e responsabilidades reais. O PL, em particular, está a mostrar capacidade de organização, projeção nacional e ousadia estratégica ao absorver quadros com experiência parlamentar e orgânica.

A ironia e o bode expiatório: “A culpa é do MPLA”

A frase usada por muitos como sarcasmo, “A culpa é do MPLA”, surge neste contexto como um espelho das contradições internas da oposição. Embora o MPLA continue a ser apontado como o principal responsável pelos males do país, a desintegração interna da UNITA não pode mais ser ignorada ou externalizada. A saída de quadros de primeira linha deve levar a UNITA a uma profunda autorreflexão: está o partido verdadeiramente preparado para liderar uma alternativa nacional? Ou é apenas um espaço político onde muitos se sentem estagnados?

O que está em jogo

Angola vive um momento de redefinição do seu mapa político. A fragmentação da oposição tradicional, em favor de novas forças mais flexíveis e modernas, pode ser lida como sinal de amadurecimento democrático, mas também como um alerta vermelho para os partidos históricos que não conseguirem adaptar-se aos tempos.

O que está a acontecer com a UNITA não é apenas uma questão de nomes que saem, é um indicativo de que o monopólio da oposição está a ruir. E quem não se adapta, desaparece.

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