No Dia de África, 25 de Maio, celebramos não apenas a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963, hoje União Africana (UA), mas também a centralidade de África como o berço da humanidade. Esta designação, ancorada em evidências arqueológicas e antropológicas, transcende o simbolismo e assume relevância geopolítica, reforçando o papel do continente como epicentro histórico, cultural e estratégico. A condição de África como berço da humanidade é não só um legado científico, mas também uma ferramenta para reposicionar o continente no sistema internacional.
África como Origem da Humanidade
Evidências arqueológicas, como os fósseis de Homo habilis e Homo sapiens encontrados em sítios como Olduvai Gorge (Tanzânia) e Cradleof Humankind (África do Sul), confirmam que África é o berço da espécie humana. O Australopithecus afarensis (Lucy), descoberto na Etiópia, datado de há 3,2 milhões de anos, e os vestígios de comportamento cultural em Blombos Cave (África do Sul) reforçam a narrativa científica de que o continente foi o palco da evolução humana. Esta herança confere a África uma centralidade histórica única, que vai além da ciência e molda a sua identidade geopolítica.
Dimensão Geopolítica
1. Soft Power Cultural: A condição de berço da humanidade é um activo de *soft power* para África. Num mundo onde narrativas históricas influenciam a percepção global, o continente pode capitalizar esta identidade para promover o panafricanismo e afirmar a sua relevância cultural. A UA, com os seus 54 Estados-membros, pode usar este legado para fortalecer a unidade continental, contrapondo-se a narrativas eurocêntricas que historicamente marginalizaram África.
2. Recursos e Interesse Global: África não é apenas o berço da humanidade, mas também um reservatório de recursos estratégicos minerais como cobalto, lítio e terras raras, essenciais para a transição energética global. A competição entre potências como China, EUA e União Europeia pelo acesso a esses recursos reforça a importância geopolítica do continente. No entanto, a exploração desenfreada, muitas vezes conduzida por actores externos, perpetua desigualdades herdadas do colonialismo, desafiando os Estados africanos a adoptarem políticas soberanas de gestão de recursos.
3. Desafios de Governação: Apesar do seu legado, África enfrenta desafios estruturais, como conflitos, pobreza e fragilidade institucional. A região dos Grandes Lagos, por exemplo, continua marcada por instabilidade, como o conflito na RDC envolvendo o M23. Angola, como mediadora regional, demonstra o potencial de liderança africana, mas a ausência de uma governação coesa limita a capacidade do continente de traduzir a sua herança histórica em influência global.
O Papel de Angola
Angola, com a sua história de luta anticolonial e mediação regional, tem um papel crucial na promoção da narrativa de África como berço da humanidade. A diplomacia angolana, liderada por figuras como o Presidente João Lourenço, deve articular esta identidade para reforçar a integração regional na SADC e na UA. Investir em educação, ciência e turismo arqueológico – como os projectos em curso no Corredor do Lobito, que liga Angola à RDC e Zâmbia – pode transformar o legado histórico em desenvolvimento económico e cultural.
Conclusão
No Dia de África, reafirmar o continente como berço da humanidade é mais do que um exercício de memória; é uma estratégia geopolítica. África deve converter o seu legado em *soft power*, promovendo a unidade, a soberania sobre os seus recursos e a resolução de conflitos internos. Angola, com a sua posição estratégica, deve liderar este esforço, articulando uma narrativa que reposicione o continente como protagonista no sistema internacional. Só assim o berço da humanidade será também o berço de um futuro próspero e soberano.
O conteúdo África, Berço da Humanidade: Uma Perspectiva Geopolítica Sobre o Dia de África aparece primeiro em Correio da Kianda – Notícias de Angola.
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