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Pais de estudante de medicina morto por PM em SP denunciam caso à ONU

Os pais do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, que foi morto  por policiais militares (PMs) de São Paulo em novembro do ano passado, pretendem apelar à Organização das Nações Unidas (ONU) para que o governo paulista seja responsabilizado pela morte do filho. O pedido será apresentado à ONU nesta quinta-feira (19).

A denúncia será feita em conjunto com a organização não governamental (ONG) Conectas Direitos Humanos. Julio Cesar Acosta Navarro e Silvia Mônica Cardenas Prado, pais do estudante, vão apresentar o apelo durante a 59ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que está sendo realizada em Genebra, na Suíça. Na denúncia, além da responsabilização dos policiais envolvidos, a família e a Conectas pedem que a ONU recomende ao Estado brasileiro uma série de medidas para diminuir a letalidade policial e dar a devida assistência às vítimas e seus familiares.

Em entrevista hoje, à Agência Brasil e à TV Brasil, o pai do estudante, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, informou que levará uma série de fotos e documentos para mostrar que seu filho foi vítima de diversos crimes que vão do assassinato à omissão de socorro, passando pela xenofobia [o pai é de origem peruana] e o racismo.

“Este caso é uma situação de xenofobia, de racismo, de maldade e de princípios inculcados de violência sobre as pessoas que aparentemente são pobres”, disse Acosta Navarro. “Ele [Marco Aurélio] foi escolhido por uma questão de racismo, de discriminação social e de parecer pobre, apesar de estar em um bairro de classe média, como é a Vila Mariana. Ele parecia pobre porque estava sem camisa e de chinelo – essa era a personalidade dele, mas não era uma pessoa pobre”, afirmou o médico, que já está em Milão, a caminho de Genebra.

Segundo Acosta Navarro, seu testemunho sobre a violência que atingiu sua família é o mais importante a ser apresentado à ONU. “Para começar, eu tenho um testemunho vivo de como os policiais me negam essa chance [de Justiça], de como os policiais mentem na minha cara, de como os policiais criaram uma falsa imagem do meu filho, de como os policiais me intimidam portando armas”, enfatizou.

Marco Aurélio tinha 22 anos à época e foi morto com um tiro à queima-roupa, por volta das 2h50 do dia 20 de novembro de 2024, na escadaria de um hotel localizado na Rua Cubatão, na região da Vila Mariana, zona sul de São Paulo. O tiro partiu de um policial que participava da abordagem ao estudante. A ação foi registrada por câmeras de segurança do hotel.

As imagens mostraram uma rápida perseguição que começou quando o jovem deu um tapa no retrovisor de uma viatura policial. Desarmado, o estudante correu para o interior do hotel onde estava hospedado e foi seguido pelos policiais. Na escadaria que dava acesso aos quartos, um dos PMs deu um chute no abdômen do rapaz e caiu ao chão. Imediatamente, o outro policial atirou no estudante.

Na época, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP) informou que Acosta havia golpeado a viatura policial e tentou fugir. Segundo a SSP, ao ser abordado, “investiu” contra os policiais e foi ferido.

“A versão oficial que me foi dita e escrita, quando meu filho ainda estava grave [no hospital], era que ele tinha batido na viatura, batido no policial e tentado tirar a arma [deles] e que os policiais, nessa consequência, tinham tirado a vida dele em defesa própria. Essa versão oficial foi derrubada horas depois, quando surgiu o vídeo do hotel”, disse o pai. “E as provas [que apareceram nas imagens do hotel] já eram suficientes para que os dois policiais tivessem sido presos em flagrante, no mesmo dia”, reforçou.

Não foi o que aconteceu. Acosta Navarro ressaltou que os dois policiais envolvidos no crime foram inclusive liberados para voltar ao patrulhamento – e na mesma região onde o filho foi assassinado. “Como é possível que até agora esse policial esteja sem punição? Os dois policiais foram premiados para patrulhar novamente a área onde eles trabalham, ou seja, na Vila Mariana.”

Espera por Justiça

Depois de tanta espera por Justiça no Brasil, o pai do estudante disse que decidiu ir à ONU em busca de respostas. “Essa é a pior tragédia que eu já vivi: eu perdi o meu filho. Na verdade, não o perdi, meu filho foi arrancado de mim”, disse o médico.

“De alguma maneira, a Polícia Militar, ao assassinar o meu filho, não pensava que esse rapaz de aparência humilde ia ser médico e que era filho de uma família de cientistas. Eles não pensavam que essa família não ia se calar. Muitos outros pais do Brasil, ou de São Paulo, poderiam estar na ONU também. Se eles não estão, não é porque não amam o filho. Eles não estão porque não têm condição ou porque são ameaçados”, reforçou.

Esta não é a primeira vez que a ONU recebe uma denúncia sobre a atuação da Polícia Militar de São Paulo, no governo Tarcísio de Freitas. Em março do ano passado, o governador foi denunciado pela escalada da letalidade policial no estado, resultado de operações violentas desenvolvidas na Baixada Santista, que culminaram com, no mínimo, 56 mortes.

Em nota encaminhada à reportagem, o governo de São Paulo disse “lamentar a morte do estudante” e reforçar “que todo e qualquer desvio de conduta por parte dos seus agentes é investigado e severamente punido”.

De acordo com o governo estadual, o inquérito policial sobre o caso, que foi instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, já foi concluído e relatado à Justiça. “O policial também foi indiciado no inquérito policial militar por homicídio doloso e permanece afastado das atividades.”

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