A realização do Fórum EUA-África dos Empresários em Angola neste mês representa um marco relevante no reposicionamento geoeconómico de Angola na arena internacional. No entanto, subsiste uma lacuna gritante: a ausência de um debate público estruturado sobre o que, concretamente, Angola pretende oferecer aos EUA e, em contrapartida, o que espera obter deste relacionamento bilateral e multilateral.
A assimetria nas expectativas e a crise das instituições académicas e científicas
Angola tem historicamente participado em fóruns internacionais com uma postura de receptividade e hospitalidade, mas raramente com uma agenda económica estruturada baseada em dados empíricos ou em visões acadêmicas prospectivas. As universidades e centros de investigação angolanos encontram-se, em sua maioria, dissociados das estratégias de desenvolvimento nacional e do apoio às empresas privadas. A dependência crónica de financiamentos externos, em detrimento da inovação interna e da articulação com o tecido empresarial local, compromete qualquer possibilidade de inserção sustentada na cadeia de valor global.
Dados do World Economic Forum (2024) indicam que, dos 20 países africanos mais bem posicionados em termos de ligação entre universidades e indústria, Angola não figura na lista. Isto demonstra o desafio de transformar o conhecimento em produto, e o produto em exportação com valor agregado.
O que pode Angola oferecer aos EUA?
Angola possui vantagens comparativas em três sectores-chave: energias renováveis, minerais críticos e agricultura. A transição energética global exige lítio, cobalto e terras raras recursos que Angola detém em volumes significativos. No entanto, a ausência de um sistema de certificação, rastreabilidade e valorização local compromete a negociação com grandes compradores internacionais.
A agricultura é outro eixo crítico. Os EUA têm interesse em diversificar cadeias de abastecimento alimentares, especialmente face às disrupções da guerra na Ucrânia. Angola pode tornar-se um celeiro regional, mas para isso precisa de investir na ciência agrária, na logística e nos padrões sanitários exigidos pelo mercado americano.
O que Angola pode exigir dos EUA?
Transferência de tecnologia com base em parcerias win-win, onde as universidades angolanas sejam envolvidas como nós de inovação.
Acesso preferencial ao mercado americano para produtos transformados em Angola, com certificados de origem e valor local agregado.
Formacão técnica e científica focada em gestão industrial, economia digital e controlo de qualidade, para sustentar a inserção produtiva.
Soluções Práticas
Criação de Observatórios Económicos Universitários: Espaços de pesquisa que monitorizem oportunidades comerciais com os EUA e desenvolvam relatórios semestrais para o governo e o sector privado.
Institutos de Diplomacia Económica: Unidades universitárias especializadas em negociação internacional, que actuem como apoio estratégico ao Ministério das Relações Exteriores e da Indústria e Comércio.
Parques Tecnológicos Universitários em colaboração com empresas nacionais, onde produtos sejam prototipados, testados e certificados.
Financiamento nacional para centros de investigação aplicados, com contrapartidas privadas, para reduzir a dependência externa e fomentar uma ciência virada para o mercado.
Conclusão
O Fórum EUA-África não deve ser apenas uma vitrine diplomática. Angola precisa de uma narrativa económica coesa, sustentada por dados, orientada por conhecimento científico e com objectivos concretos de inserção nos circuitos globais de valor. Mais do que discursos, é urgente criar instituições, estimular pensamento crítico e alinhar a formação superior às necessidades produtivas do país.
O conteúdo Angola na Cimeira EUA-África: oportunidade estratégica ou espaço de simbolismo diplomático? aparece primeiro em Correio da Kianda – Notícias de Angola.
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