A recente ofensiva das Forças de Apoio Rápido (RSF) contra infraestruturas estratégicas do Sudão nomeadamente o principal porto de Port Sudan e o aeroporto internacional representa uma viragem qualitativa na guerra civil sudanesa. Este ataque, mais do que um movimento militar, evidencia a transição do conflito de uma disputa de poder localizada para uma guerra total com impactos regionais e internacionais, do ponto de vista geopolítico, o controlo do porto e do aeroporto assume uma importância crítica.
O porto de Port Sudan é a principal ligação do país ao comércio internacional, por onde circulam importações essenciais e recursos vitais como o petróleo e produtos alimentares. A sua ocupação ou sabotagem compromete diretamente a segurança alimentar da população e fragiliza ainda mais a balança comercial sudanesa, já de si afectada por sanções, instabilidade cambial e escassez de reservas.
A nível regional, a escalada ameaça desestabilizar ainda mais o já frágil Chifre de África. O Sudão partilha fronteiras com sete países, muitos deles também em processos frágeis de reconstrução ou transição, como o Sudão do Sul, Etiópia e República Centro-Africana. A proliferação de armas, o fluxo de refugiados e a expansão de redes ilícitas (tráfico de ouro, armas e seres humanos) são externalidades negativas inevitáveis deste conflito, podendo transformar a região num corredor de instabilidade crónica.
O envolvimento de actores externos, como os Emirados Árabes Unidos, Egipto ou a Rússia (nomeadamente através do grupo Wagner), agrava o cenário. Estes países, movidos por interesses estratégicos e económicos, instrumentalizam facções internas sudanesas, minando os esforços de mediação africanos em particular os promovidos pela União Africana e pela Autoridade Intergovernamental sobre o Desenvolvimento (IGAD).
Do ponto de vista económico, o prolongamento do conflito destrói qualquer hipótese de retoma. O investimento estrangeiro evapora-se, os serviços públicos colapsam e a capacidade produtiva nacional é reduzida a níveis residuais. O sistema bancário encontra-se paralisado, e as cadeias de abastecimento estão em colapso. Tudo isto resulta numa crise humanitária de proporções catastróficas, com mais de 10 milhões de deslocados internos e 25 milhões de pessoas a necessitar de assistência.
As soluções possíveis exigem uma abordagem multissectorial e multilateral:
1. Pressão diplomática coordenada por parte da União Africana, ONU e países-chave da região, para impor um cessar-fogo vinculativo e criar condições mínimas para negociações políticas inclusivas.
2. Estabelecimento de corredores humanitários seguros, com supervisão internacional, para permitir o acesso a populações sitiadas.
3. Sanções direcionadas contra líderes das facções armadas que obstruem o diálogo, combinadas com incentivos económicos para aqueles que aderirem a um processo de reconciliação nacional.
4. Investimento em mecanismos de justiça transicional, com vista a responsabilizar autores de crimes de guerra e a restaurar a confiança institucional.
O conflito no Sudão é um alerta severo para o continente: sem mecanismos eficazes de governação democrática, segurança humana e redistribuição justa da riqueza, as fragilidades internas tornar-se-ão sempre catalisadores de guerras devastadoras.
O conteúdo Breve análise sobre a escalada do conflito no Sudão: implicações para a economia e a geopolítica regional aparece primeiro em Correio da Kianda – Notícias de Angola.
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