A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO/ECOWAS), celebra o seu 50.º aniversário hoje mas, enfrenta um momento crítico da sua história. Fundada em 1975 com o objectivo de promover a integração económica e política na África Ocidental, a organização é confrontada com desafios significativos que ameaçam a sua coesão. O recente abandono de Mali, Burkina Faso e Níger, que formaram a Aliança dos Estados do Sahel (AES), marca uma fractura sem precedentes na região.
A CEDEAO, criada em Lagos com a visão de unir 15 nações para superar legados coloniais de pobreza e fragmentação, alcançou sucessos notáveis, como a livre circulação de pessoas, o passaporte comum e intervenções de manutenção da paz através da ECOMOG. Contudo, a saída oficial de Mali, Burkina Faso e Níger em janeiro de 2025, após a criação da AES em 2023, representa um golpe significativo. Esses países, liderados por juntas militares, acusam a CEDEAO de alinhamento com potências ocidentais e de aplicar sanções “desumanas” após golpes de Estado, como as impostas a Níger em 2023, que incluíram fecho de fronteiras e congelamento de activos. A AES, com apoio crescente de populações locais e alinhamento com a Rússia e a Turquia, desafia a autoridade da CEDEAO.
Implicações Geopolíticas
Enfraquecimento da Unidade Regional: A saída dos três países reduz a CEDEAO para 12 membros, representando a perda de 76 milhões de habitantes e mais de metade da sua área geográfica. Esta fragmentação compromete a integração económica, com o comércio intra-regional estagnado em menos de 15% das exportações, longe das ambições de um mercado comum. A imposição de tarifas de 0,5% pela AES sobre bens da CEDEAO agrava as tensões comerciais.
Desafios de Segurança: A região enfrenta ameaças crescentes, como o terrorismo no Sahel, que deslocou milhões de pessoas. A incapacidade da CEDEAO em abordar as causas estruturais má governação, desemprego juvenil e degradação ambiental levou à desconfiança dos Estados do Sahel, que buscam soluções alternativas com actores externos. A fragilidade da CEDEAO pode permitir a expansão de crises de segurança para países costeiros.
Crise de Legitimidade: A percepção de que a CEDEAO adopta padrões duplos, condenando golpes militares em alguns países enquanto tolera retrocessos democráticos em outros, como no Togo, alimentou a narrativa de que a organização serve elites em vez das populações. A criação da AES reflecte um desejo de liderança mais alinhada com as aspirações populares.
O caminho a seguir
Para sobreviver, a CEDEAO precisa de reformas profundas. Deve reconectar-se com os cidadãos, promovendo a sua relevância através de iniciativas visíveis, como a Estratégia de Economia Digital, que visa criar um mercado digital unificado. Investir em infraestruturas, harmonizar políticas tecnológicas e envolver os jovens em processos de decisão são passos cruciais. A mediação em curso, liderada por figuras como o Presidente senegalês Bassirou Diomaye Faye, oferece uma janela de oportunidade para reintegrar os países da AES, mas exige diálogo inclusivo e menos dependência de potências externas.
Conclusão
Aos 50 anos, a CEDEAO enfrenta o seu maior teste. Apesar dos êxitos, como a livre circulação e esforços de paz, a saída de Mali, Burkina Faso e Níger expõe fragilidades estruturais. A organização deve reformular-se, focando-se numa integração centrada nas pessoas e na resolução de desafios de segurança e governação. Sem isso, a visão de uma África Ocidental unida corre o risco de se desvanecer, comprometendo o legado de cinco décadas de esforços.
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