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Conclave de 2025 e a eleição do próximo papa: conservador ou progressista?

O Conclave que terá início no dia 7 de Maio de 2025, na Capela Sistina, para a eleição do 267.º Sumo Pontífice da Igreja Católica, após o falecimento do Papa Francisco a 21 de Abril, reveste-se de importância não apenas eclesiástica, mas profundamente geopolítica. A escolha do novo Papa tem o potencial de reconfigurar a influência diplomática do Vaticano e de redefinir o posicionamento da Igreja em matérias fracturantes no plano internacional. Importa-nos reflectir sobre os factores que moldam esta sucessão papal e as suas possíveis repercussões na ordem global.

I. O Legado de Francisco: Entre a Inclusão Pastoral e a Contestação Doutrinária

Francisco, o primeiro Papa jesuíta e latino-americano, protagonizou um pontificado caracterizado por reformas pastorais e uma teologia da misericórdia, que confrontou a ortodoxia doutrinária clássica. A sua visão incluiu a abertura pastoral a divorciados, a bênção a casais do mesmo sexo e o aprofundamento do diálogo inter-religioso, em particular com o Islão. Este perfil reformista provocou a fragmentação do Colégio Cardinalício, que embora em grande parte composto por nomeações de Francisco (80% dos 133 eleitores), não constitui um bloco homogéneo.
Questão crítica: Será que o Colégio de Cardeais procurará consolidar este legado, ou reagirá em direcção a um recentramento doutrinário?

II. A Composição Global do Colégio Cardinalício: Fim da Hegemonia Europeia?

Pela primeira vez na história, os cardeais eleitores não são maioritariamente europeus: apenas 53 provêm do Velho Continente, em contraste com 23 da América Latina, 23 da Ásia, 18 da África e 14 da América do Norte. Com mais de metade da população católica mundial concentrada no Sul Global (52%), a eleição de um Papa proveniente dessas regiões como o cardeal Fridolin Ambongo (RDC) ou Luis Antonio Tagle (Filipinas) poderia representar uma viragem histórica e simbólica. Porém, a barreira linguística, a experiência na Cúria Romana e o jogo diplomático interno favorecem nomes como Pietro Parolin (Itália), Secretário de Estado do Vaticano.
Interrogação relevante: Estará o Colégio disposto a romper com o eurocentrismo papal, ou prevalecerá a lógica institucional da continuidade e do “papável” convencional?

III. Correntes Internas: Conservadorismo Resiliente, Progressismo Fragmentado, Moderação Emergente

As facções dentro do Conclave podem ser esquematicamente agrupadas em três blocos:

Progressistas: Inspirados na teologia de Francisco, com foco na inclusão, justiça climática e equidade social. Destaque para Tolentino de Mendonça (Portugal) e Blase Cupich (EUA).

Conservadores: Defendem a ortodoxia doutrinária, o celibato sacerdotal, e opõem-se frontalmente às reformas recentes. Entre os nomes de referência encontram-se Gerhard Müller e Robert Sarah.

Moderados: Preconizam equilíbrio e unidade e são vistos como potenciais figuras de transição. Parolin é o expoente maior desta ala.

Dado o quórum necessário de dois terços (89 votos), um compromisso entre moderados e alas opostas poderá ser inevitável, favorecendo um perfil consensual.
Questão determinante: Conseguirão os cardeais evitar a polarização e escolher uma figura de síntese, ou caminharão para um novo cisma doutrinário?

IV. O Conclave e os Ventos Geopolíticos: Religião, Política e Diplomacia

A eleição do Papa não se limita ao domínio teológico. Ela intersecta-se com os interesses estratégicos dos Estados e das ideologias dominantes.

Papa progressista: Fortaleceria a liderança moral do Vaticano em fóruns multilaterais (ONU, COP), no combate às alterações climáticas, migração e desigualdades. Contudo, poderia colidir com regimes conservadores (Hungria, EUA sob Trump, Polónia) e com líderes africanos e asiáticos que rejeitam a agenda LGBTQ+.

Papa conservador: Consolidaria alianças com governos populistas de direita e sectores tradicionalistas da Igreja, mas alienaria as sociedades seculares da Europa Ocidental e partes da América Latina.

Papa moderado: Manteria o perfil diplomático do Vaticano, preservando o canal de diálogo com a China e promovendo a estabilidade em zonas de conflito como a Palestina ou a Ucrânia.

Questões geoestratégicas emergentes:

Como influenciará o próximo Papa as negociações de paz em cenários de guerra prolongada?

Qual será a posição do novo pontífice sobre os regimes autoritários e a liberdade religiosa em contextos como a China ou a Índia?

Estará o Vaticano preparado para actuar como actor de soft power num sistema internacional cada vez mais multipolar?

V. O Sul Global como Epicentro Católico

A hipótese de um Papa africano ou asiático reveste-se de significado profundo. A emergência de Ambongo (RDC) colocaria em evidência as preocupações com a justiça económica e os conflitos armados no continente africano. Já Tagle, com a sua sensibilidade pastoral e carisma junto das comunidades marginalizadas, representa a ascensão asiática e a capacidade do catolicismo de penetrar em sociedades complexas como a chinesa, a indiana ou a indonésia.
Pergunta chave: A Igreja reconhecerá efectivamente o centro de gravidade da fé católica no Sul Global, ou continuará a projectar uma imagem eurocêntrica com rosto diverso?

VI. Impacto Sociocultural e a Gestão das Fracturas Internas

A eleição de um Papa abertamente progressista poderá desencadear tensões e resistências, sobretudo nas conferências episcopais africanas e em dioceses norte-americanas mais conservadoras. Um Papa conservador, por seu turno, poderá ver-se confrontado com a deserção moral de fiéis urbanos e jovens europeus. Um Papa moderado poderá ser a única forma de preservar a unidade institucional sem provocar um cisma silencioso.
Questão para reflexão interna: A Igreja Católica está disposta a enfrentar os seus conflitos internos de frente, ou continuará a preferir consensos diplomáticos que adiam reformas estruturais?

Conclusão

O Conclave de 2025 transcende o momento religioso. Trata-se de uma eleição com implicações diplomáticas, éticas, civilizacionais. No centro da decisão está a tensão entre tradição e renovação, entre identidade e abertura. Um novo Papa conservador seria uma ruptura com a era Francisco; um progressista, a sua consolidação radical; um moderado, a tentativa de reconciliação num mundo fraturado.

Pergunta final: Que Papa precisa o mundo em 2025 um pastor da esperança, um guardião da ortodoxia, ou um diplomata da paz global?

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