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Encerramento do VTB África: reflexo de dificuldades internas ou sinal de distanciamento entre Angola e Rússia?

O anúncio do encerramento das actividades do Banco VTB África em Angola marca o fim de uma presença simbólica da banca russa em Angola e levanta questões relevantes sobre os reais motivos por trás dessa decisão e suas possíveis implicações geopolíticas.

Um banco à deriva

Criado em 2006 como uma extensão das relações históricas entre Angola e a Rússia, o VTB África operava como uma ponte financeira entre Luanda e Moscovo. No entanto, a sua trajetória foi marcada por sucessivos desafios, nomeadamente, administrativos, operacionais e, mais recentemente, geopolíticos.

Segundo o governador do Banco Nacional de Angola, citado pelo jornal Expansão, a decisão de encerrar o banco partiu dos próprios acionistas, depois de o VTB África não conseguir cumprir com os requisitos mínimos de capital exigidos desde 2022. A instituição operava com cerca de 7,5 mil milhões de kwanzas, metade do mínimo exigido pelo regulador. Essa fragilidade financeira, agravada pela incapacidade de recapitalização, revelou-se insustentável.

O peso das sanções

O pano de fundo mais amplo, porém, envolve a crescente pressão internacional sobre instituições russas após a invasão da Ucrânia. O VTB Group, que detem o banco em Angola, foi um dos alvos directos das sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, incluindo a exclusão do sistema SWIFT. Com essa restrição, a operação do banco ficou profundamente limitada, dificultando transações internacionais e até o repatriamento de lucros.

Entretanto, em Angola, os efeitos foram visíveis: dificuldades em pagar fornecedores, obstáculos a investimentos e tensões crescentes entre acionistas. Alguns observadores indicam que os desentendimentos internos entre o VTB Moscovo e o conselho de administração em Luanda também contribuíram para a decisão final.

Angola e Rússia: o fio diplomático ainda não se rompeu

É tentador interpretar o encerramento do VTB África como um sinal de deterioração das relações entre Angola e a Rússia. No entanto, esse seria um salto analítico impreciso. Apesar de Angola ter condenado a guerra na Ucrânia em fóruns internacionais, o país manteve uma posição de neutralidade activa, recusando-se a aderir às sanções contra Moscovo. A cooperação militar e energética entre os dois países persiste, embora num tom mais discreto.

Na verdade, o encerramento do banco parece refletir mais uma consequência da reconfiguração da ordem financeira internacional e da exposição de instituições russas à vulnerabilidade do isolamento diplomático do que um gesto político unilateral de Luanda.

Um sinal para o sistema financeiro angolano

A saída do VTB África também revela um amadurecimento do sistema bancário angolano, que começa a exigir maior solidez patrimonial e transparência de suas instituições. A aplicação rigorosa das regras pelo BNA, mesmo contra uma entidade com respaldo estatal russo, reforça a autoridade do regulador e a intenção do governo de alinhar-se às melhores práticas internacionais.

A saida do VTB África do mercado angolano, representa igualmente o colapso de uma instituição incapaz de se adaptar a um novo contexto geopolítico e regulatório.

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