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Haddad comete imprecisões ao citar dados econômicos 

Em 5 dias, ministro falou 4 vezes que governo cobra menos impostos e país saiu de investimentos públicos quase nulos, mas números não batem com as próprias estatísticas oficiais

Em 5 dias, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cometeu ao menos 4 imprecisões ao comentar dados econômicos da economia do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em comparação ao governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL).

As declarações de Haddad se deram de 5ª feira (22.mai.2025) até 2ª feira (26.mai). Houve também uma declaração com imprecisão em abril de 2025.

CARGA TRIBUTÁRIA

Haddad participou na 2ª feira (26.mai) da celebração do Dia Nacional da Indústria, na CNI (Confederação Nacional da Indústria). Ele afirmou que a carga tributária está menor que há 10 anos. A informação está incorreta.

Hoje, a carga tributária federal, a receita primária federal, é menor do que 10 anos atrás. Temos que ter a compreensão de que temos desafios a enfrentar, sobretudo em relação ao equilíbrio orçamentário, que é o papel de todos”, declarou na ocasião.

O ministro abordou 2 indicadores diferentes:

  • carga tributária – é a soma de todos os tributos arrecadados pelo governo em relação ao PIB (produto interno bruto), indicando quanto da economia é abocanhado por impostos;
  • receita do governo federal – mostra quanto o governo federal arrecada em relação ao PIB.

Em ambos, houve aumento em relação ao patamar de 2014.

Dados mais recentes Tesouro Nacional mostram que a carga tributária do Brasil foi de 32,3% do PIB em 2024. O governo federal responde por 21,4 pontos percentuais.

É o maior patamar em pelo menos 15 anos. O percentual referente à União subiu de 20,6% no fim do governo de Bolsonaro para 21,4% em 2024.

A receita tributária federal líquida do governo central (excluídas transferências para Estados e cidades) foi 16,8% do PIB em 2024. Em 2024, era 16,2%. Houve aumento no governo de Lula. Era também 16,2% em 2022.

O evento da CNI foi realizado na semana seguinte ao anúncio do aumento das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que elevará a carga tributária sobre crédito, compras no exterior, câmbio e previdência privada.

RESULTADO ESTRUTURAL

No mesmo evento de 2ª feira (26.mai), Haddad afirmou que o governo Lula herdou um deficit estrutural de 2% do PIB.

O resultado primário estrutural é uma maneira de observar o desempenho das contas públicas sem influências transitórias, não recorrentes.

A SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda mudou a metodologia de cálculo em janeiro de 2025. Revisou o dado de 2022 de 0,71% do PIB positivo para 0,6% do PIB negativo.

A IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado calculou que o governo de Bolsonaro teve um superavit primário estrutural de 0,3% do PIB em 2022.

INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA

Haddad disse na 2ª feira (26.mai) que investimentos do governo com infraestrutura estavam “próximos de zero” em 2022, ao final do governo Bolsonaro. Ele se referia especialmente aos gastos públicos com a área.

“Outra coisa que é marca do presidente Lula. Se a gente não tiver infraestrutura, nós não temos condições de competir. E nós retomamos os investimentos que minguaram e chegaram quase zero até 2022. Nós não tínhamos mais obras no país de infraestrutura”, declarou.

Os investimentos não chegaram a zero.

Dados da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) mostram que houve uma queda nos investimentos públicos em infraestrutura de 2019 a 2022. Apesar disso, foram compensados por investimentos da iniciativa privada.

Em 2018, último ano do governo de Michel Temer (MDB), os investimentos totais foram de R$ 170 bilhões, sendo R$ 50 bilhões públicos e R$ 120 bilhões privados. Em 2022, último ano de Bolsonaro, foram R$ 188 bilhões, sendo R$ 35 bilhões públicos e R$ 153 bilhões privados.

Em 2023, com Lula, foram R$ 225 bilhões no total, sendo R$ 52 bilhões públicos e R$ 173 bilhões privados.

Os valores investidos dos cofres do governo subiram durante o Lula 3, com um valor projetado em R$ 62 bilhões para 2024. Também atingiu um valor recorde na série apresentada pela associação ao considerar o capital privado.

CONTAS PÚBLICAS

Outra frase imprecisa de Haddad foi sobre o deficit acumulado em diferentes governos.

Estamos saindo de 10 anos de deficit crônico, na casa de 2% do PIB. Não é uma tarefa fácil aquela que o governo se impôs”, disse o ministro em entrevista a jornalistas na 5ª feira (22.mai).

O governo de Bolsonaro teve deficit primário acumulado de 2,43% do PIB de 2019 a 2022. Mas o ministro não explicou que entram nessa conta as despesas para o enfrentamento da pandemia.

Ele tampouco informou que o resultado primário acumulado foi positivo em torno de R$ 54 bilhões em 2022. O acumulado nos últimos 2 anos de Bolsonaro (depois do pico da pandemia) foi um superavit de R$ 10 bilhões.

Haddad já contestou a forma como o governo Bolsonaro conduziu as contas públicas.

Ele declarou em junho de 2024 que o superavit de 2022 foi com base no “calote” de precatórios, além de gastos subestimados com Previdência. Disse que herdou as despesas com repasses aos governadores que arrecadaram menos com o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

“Você publica o que você quiser”, afirmou Haddad, à época, a respeito do superavit de R$ 54 bilhões em 2022.

DÍVIDA PÚBLICA

O ministro da Fazenda disse em 8 de abril que o aumento da dívida pública não é responsabilidade do governo atual: “É consequência de decisões tomadas no passado, não foram tomadas por nós”.

O estoque do endividamento do governo central subiu R$ 1,87 trilhão nos quase 2 anos e meio do Lula 3. A alta foi de R$ 1,95 trilhão nos 4 anos de Bolsonaro.

O placar de alta por governo é o seguinte:

  • Dilma (2011– mai.2016) – R$ 2,1 trilhões;
  • Temer (mai.2016-2018) – R$ 1,2 trilhão;
  • Bolsonaro (2019-2022) – R$ 1,96 trilhão;
  • Lula 3 (2023-até o momento) – R$ 1,87 trilhão.

Apesar da alta nominal sob Bolsonaro, o indicador caiu de 75,27% para 71,68% em relação ao PIB.

No dado mais recente, de março de 2025, o estoque subiu para R$ 9,10 trilhões. Isso representa 75,91% do PIB.

O governo de Lula teve um deficit primário (sem contar o pagamento dos juros da dívida) de R$ 309,9 bilhões em 2023 e 2024. Esse saldo negativo foi produzido durante a gestão atual e influencia a dívida pública do Brasil.

O deficit nominal –que inclui as despesas com juros da dívida– totalizou R$ 1,78 trilhão no acumulado dos 2 primeiros anos do governo de Lula. Além do deficit primário, os gastos com juros impactaram o volume de endividamento.

Haddad atribui parte da responsabilidade do gasto à taxa básica de juros (Selic), que está em 14,75% ao ano.

Os juros elevados potencializam a dívida.

O Banco Central nos últimos 2 anos e meio, já no governo Lula e com a presidência de Roberto Campos Neto (indicado por Bolsonaro), até o final de 2024, e de Gabriel Galípolo (indicado por Lula), a partir de janeiro de 2025, manteve os juros altos porque a inflação estava fora da meta.

Foram realizadas 3 reuniões do Copom em 2025, já com Galípolo:

  • 29.jan.2025 – elevou juro em 1 p.p., foi a 13,25% ao ano;
  • 19.mar.2025 – elevou juro em 1 p.p., foi a 14,25% ao ano;
  • 7.mai.2025 – elevou juro em 0,5 p.p., foi a 14,75% ao ano.

A próxima será em 17 e 18 de junho.



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