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O crescimento da Direita radical na Europa: raízes, impactos geopolíticos e o futuro da integração Europeia

Nos últimos quatro anos, a ascensão de partidos de direita radical na Europa, com vitórias eleitorais ou formação de governos em países como Itália, Países Baixos, Chequia, Finlândia, Croácia, Portugal e, mais recentemente, Polónia, onde Karol Nawrocki, apoiado pelo Lei e Justiça (PiS), venceu as presidenciais de 1 de Junho de 2025 com 50,89% contra 49,11% de Rafal Trzaskowski, sinaliza uma transformação profunda no panorama político europeu.

Antecedentes: As Sementes do Descontentamento

O crescimento da direita radical tem raízes em crises estruturais. A crise financeira de 2008, seguida por medidas de austeridade, gerou desigualdades económicas e desconfiança nas elites políticas, enfraquecendo partidos tradicionais (Mudde, 2019). A crise migratória de 2015 intensificou receios identitários, alimentando narrativas anti-imigração exploradas por partidos como o Fratelli d’Italia (Itália), o Partido da Liberdade (Países Baixos) e o PiS (Polónia). A globalização, percebida como ameaça a empregos e culturas locais, e a amplificação de discursos populistas nas redes sociais criaram um terreno fértil para a direita radical (Norris & Inglehart, 2019). Na Polónia, o PiS capitalizou valores católicos e soberanistas, enquanto em Portugal o Chega explorou a insatisfação com corrupção e crise económica, reflectindo um desencanto generalizado com a democracia liberal.

Dinâmicas Actuais: Governação e Fragmentação

Desde 2021, a direita radical consolidou-se. Na Itália, Giorgia Meloni formou governo em 2022, moderando o discurso para manter apoio internacional. Nos Países Baixos, Geert Wilders venceu em 2023, focando a identidade nacional. Na Chequia (SPD), Finlândia (Verdadeiros Finlandeses) e Croácia (Domovinski Pokret), partidos radicais integram coligações, moldando políticas migratórias. Em Portugal, a vitória da Aliança Democrática (AD) sem maioria em 2025 e a ascensão do Chega, com André Ventura a captar jovens, evidenciam polarização. Na Polónia, a eleição de Nawrocki, centrada em soberania e crítica à UE, fortalece o PiS, bloqueando reformas de Donald Tusk e alinhando-se a líderes como Viktor Orbán (Freedom House, 2024). O grupo Identidade e Democracia no Parlamento Europeu ganhou influência, desafiando a agenda liberal da UE, embora contradições na governação, como a moderação de Meloni, revelem tensões internas.

Impactos Geopolíticos

Coesão da UE: O crescimento da direita radical alimenta o eurocepticismo, enfraquecendo políticas comuns em migração, transição energética e defesa. A Polónia, sob Nawrocki, e a Hungria, com Orbán, formam um bloco que resiste à integração, complicando a resposta da UE a crises como a guerra na Ucrânia (Reuters, 2025).
Relações Transatlânticas: A proximidade de Nawrocki com Trump, que apoiou sua campanha, sugere uma reorientação da Polónia para os EUA, potencialmente em detrimento da UE.
Segurança Regional: A retórica anti-imigração e nacionalista pode agravar tensões com países vizinhos, como a Ucrânia, que depende do apoio polaco contra a Rússia.
Impacto Global: A fragmentação europeia reduz a influência da UE em fóruns globais, afectando negociações climáticas e comerciais, enquanto potências como China e Rússia exploram divisões internas.

Visão Futura: Desafios e Oportunidades

A ascensão da direita radical não é transitória, mas um sintoma de falhas estruturais. A polarização intensificar-se-á se a UE não abordar desigualdades e a crise climática, que alimentam insegurança social. Em Portugal, a instabilidade da AD, dependente de negociações com o Chega, arrisca normalizar discursos extremistas. Na Polónia, o veto presidencial de Nawrocki pode paralisar reformas até 2030, aprofundando divisões (BBC, 2025). A meu ver, a resposta exige: 1) transparência institucional para combater corrupção e elitismo; 2) políticas de coesão que priorizem periferias e jovens; 3) educação cívica para contrariar desinformação. A UE deve reforçar a legitimidade, equilibrando soberania nacional e integração, enquanto Portugal e Polónia precisam de consensos multipartidários para evitar impasses.

Conclusão

O crescimento da direita radical, exemplificado pela vitória de Nawrocki na Polónia, é um alerta para as democracias europeias. Enraizado em crises económicas e identitárias, este fenómeno ameaça a coesão da UE e a estabilidade global. A resposta exige governação inclusiva e diálogo, com Portugal e Polónia como casos cruciais. A democracia liberal pode resistir se priorizar a confiança pública e a equidade, transformando desafios em oportunidades para uma Europa mais unida.

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