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Os 50 anos da queda de Saigon: reflexões sobre um marco histórico e as suas implicações globais

No dia 30 de Abril, assinalar-se-á os 50 anos desde a queda de Saigon um dos acontecimentos mais marcantes do século XX, que pôs fim à Guerra do Vietname (1954-1975) e conduziu à reunificação do país sob o regime comunista do Vietname do Norte. Este momento histórico continua a gerar debates intensos à escala global, pelas suas causas profundas, implicações internas e internacionais, impacto na diáspora vietnamita e lições relevantes para o mundo actual.

Contexto e Significado da Queda de Saigon

A Queda de Saigon, ocorrida a 30 de Abril de 1975, foi o desfecho de uma ofensiva militar decisiva conduzida pelo Exército Popular do Vietname e pela Frente Nacional de Libertação (Viet Cong), sob a liderança do General Văn Tiến Dũng. A cidade, então capital do Vietname do Sul, caiu com a rendição incondicional do General Duong Van Minh, último presidente do regime apoiado pelos Estados Unidos da América. A entrada dos tanques norte-vietnamitas no Palácio Presidencial tornou-se o símbolo do colapso de um sistema e do fim de duas décadas de conflito. A “Operação Frequent Wind”, que consistiu na maior evacuação aérea da história, permitiu a saída de cerca de 5 mil americanos e 120 mil vietnamitas, embora muitos outros tenham sido deixados à mercê da repressão do novo regime.

Enquanto no Vietname o acontecimento é comemorado como o “Dia da Libertação do Sul e da Reunificação Nacional”, muitos membros da diáspora referem-se a esta data como “Abril Negro” ou “Dia da Perda da Pátria”, expressando dor e luto pelo exílio forçado.

Consequências Internas no Vietname

A reunificação oficial ocorreu a 2 de Julho de 1976, com a mudança de nome de Saigon para Cidade de Ho Chi Minh. O novo governo impôs medidas severas como a colectivização das terras agrícolas e a reeducação forçada de cerca de 200 a 300 mil pessoas oriundas do antigo regime, em campos onde se registaram graves violações dos direitos humanos. Para aliviar a pressão populacional em Saigão, milhares foram incentivados a migrar para zonas rurais com promessas de alimentos básicos. Ainda assim, o êxodo foi massivo entre 1975 e 1995, cerca de 800 mil vietnamitas fugiram por mar, os chamados “boat people”, dos quais aproximadamente 500 mil perderam a vida.

As reformas económicas conhecidas como Doi Moi, implementadas em 1986, marcaram uma viragem para uma economia de mercado, gerando crescimento económico acelerado. No entanto, persistem desafios à reconciliação nacional: os antigos soldados e apoiantes do Vietname do Sul continuam a ser discriminados, e os memoriais do antigo regime foram apagados da memória pública. Hoje, muitos jovens no Vietname identificam-se mais com feriados ocidentais, como o Natal, do que com a data da reunificação.

Impactos Internacionais e na Diáspora

A derrota em Saigon foi vista como uma das maiores humilhações militares dos EUA, alterando de forma profunda a sua política externa. A falta de cumprimento dos Acordos de Paz de Paris (1973), agravada pelo escândalo Watergate e pelo bloqueio do Congresso americano ao financiamento solicitado por Gerald Ford, selou o fim do apoio directo àquela guerra. A experiência vietnamita ensinou duras lições sobre os limites da intervenção externa, especialmente em contextos sem legitimidade popular – erros mais tarde repetidos no Iraque e no Afeganistão.
A diáspora vietnamita organizou-se principalmente nos EUA, Canadá e Austrália, criando comunidades resilientes e culturalmente ricas como “Little Saigon” (Califórnia) e “Eden Center” (Virgínia). Figuras como Loc Nguyen e Thi Xa Nguyen representam o espírito de superação e contribuição destas comunidades, apesar da dor da separação e da nostalgia por uma pátria perdida.

Lições e Relevância em 2025

Cinquenta anos depois, o mundo volta a enfrentar tensões geopolíticas que fazem eco da Guerra Fria como a rivalidade entre os EUA e a China, e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A celebração oficial no Vietname, com desfiles patrióticos, contrasta com o silêncio sobre os traumas vividos por milhões de pessoas. Para estudiosos como Nguyễn Phan Quế Mai e Tuong Vu, a cura exige o reconhecimento de todas as memórias, e não apenas da versão vitoriosa.
No contexto actual, com a nova administração Trump a adoptar políticas isolacionistas e a questionar alianças como a NATO, a prudência herdada do “síndrome do Vietname” continua a influenciar as decisões internacionais. Contudo, o caso vietnamita também inspira: hoje, o país é um dos destinos turísticos e económicos mais promissores do Sudeste Asiático. A sua história é testemunho de resiliência, mas também alerta para os custos humanos que a guerra impõe.

Conclusão

A Queda de Saigon representa um ponto de viragem histórico com múltiplos significados. Para uns, simboliza a vitória e a reunificação; para outros, a perda e o exílio. No plano interno, trouxe estabilidade, mas à custa de profundas feridas sociais ainda por sarar. No plano internacional, redefiniu os contornos do poder e da responsabilidade global. A diáspora, ao reconstruir-se em novas terras, preserva as suas raízes sem perder de vista o futuro. Em 2025, a principal lição continua actual: sem legitimidade interna, nenhum projecto político é sustentável. E para haver verdadeira reconciliação, é preciso escutar todas as vozes da história.

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